quarta-feira, 17 de março de 2010

Prisioneiras das convenções

Nossa sociedade é sustentada por alicerces frágeis e arcaicos. Conduta, vestuário, modo de pensar e agir, tudo está padronizado e qualquer desvio é considerado anomalia e visto com repulsa. Muito provavelmente, nós, mulheres, somos as mais afetadas por esse determinismo social. Desde a infância, somos modeladas de acordo com conceitos já consolidados. Façamos uma análise dos presentes ganhados por uma menina no decorrer dos seus primeiros anos de vida:

1- Uma boneca: Concordo que o espírito maternal é encontrado na quase totalidade das mulheres. No entanto, nesse inocente artefato infantil está implícita a ideia de que a mulher deve (no sentido de obrigatoriedade) gerar filhos, dando continuidade à genealogia da família. tal afirmação pode ser exemplificada através da História: lembremos que, na Alemanha nazista, a mulher tinha a função única de conceber filhos homens sãos para integrarem o exército de Hitler;

2- Um fogão: Dotes culinários são realmente admiráveis. E eu invejo as mulheres que os tem. Porque, afinal, quem irá cozinhar para meu marido quando este chegar do trabalho, exausto? Presentear uma menina com algo desse tipo é materializar o ditado: ''Lugar de mulher é na cozinha''.

3- Um meigo vestidinho rosa: Porque somente nos ultrajando com tal cor demonstramos feminilidade e requinte. Uma menina não pode detestar os tons rosados, pois isso dissolveria sua imagem idealizada e subtrairia a delicadeza e fragilidade de sua personalidade.

E é assim que tem início o ''adestramento'' feminino, visando apenas entregar à sociedade mulheres polidas e respeitáveis, não é mesmo?

Pois bem, diante disso, detectei defeitos em mim. Quando criança, colecionei bonecas, fogões e vestimentas rosa, hoje, porém, só quero ter filho depois dos trinta, não sei cozinhar e bom, até gosto de rosa, mas prefiro outras tonalidades.

Algo falhou na minha educação. Talvez eu precise fazer algumas análises, Talvez sessões de regressão. Mas será que tudo não seria melhor se, ao invés de uma Barbie, eu tivesse ganhado um autorama?

JB, Domingo, 7 de fevereiro de 2010

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