quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sou feminista

Florence Thomas Cofundadora del grupo Mujer y Sociedad
Facultad de Ciencias Humanas Universidad Nacional de Colombia, Marzo, 2008. Traduzido por Claudina Ramirez

Nunca declarei guerra aos homens; não declaro guerra a ninguém, mudo a vida: sou feminista.

Não sou nem amargurada nem insatisfeita: gosto do humor, do riso, porém também sei compartilhar a dor das milhares de mulheres vítimas de violência: sou feminista.

Gosto com loucura da liberdade, mas não da libertinagem: sou feminista.

Eu não sou pró-aborto, sou pró-escolha porque conheço as mulheres e creio em sua enorme responsabilização: sou feminista.

Eu não sou lésbica, e se fosse, qual seria o problema? Sou feminista. Sim, eu sou feminista porque não quero morrer indignada. Sou feminista e defenderei até onde eu puder o direito de as mulheres viverem livres da violência.

Sou feminista, porque eu acredito que o feminismo é hoje um dos últimos humanismos nesta terra desolada e porque eu aposto num mundo misturado, feito para homens e mulheres que não têm a mesma forma de habitar o mesmo mundo, de interpretá-lo e agir sobre ele.

Sou feminista, porque eu gosto de provocar debates nos lugares onde posso fazê-los. Sou feminista para movimentar ideias e colocar a circular conceitos; para desconstruir velhos discursos e narrativas, para destruir mitos e estereótipos derrubar papéis prescritos e imaginários emprestados.

Eu também sou feminista para defender os sujeitos inesperados e seu reconhecimento como sujeitos de direito como gays, lésbicas e transexuais, como idosos, como crianças, como descendentes indígenas e afrodescendentes e como todas as mulheres que não desejam dar à luz mais nenhuma criança que possa ir para a guerra.

Eu sou feminista e escrevo para as mulheres que não têm voz, para todas as mulheres, por suas inegáveis semelhanças e suas evidentes diferenças. Eu sou feminista, porque o feminismo é um movimento que me permite pensar também em nossas irmãs do Afeganistão, Ruanda, Croatas, Iranianas, que me permite pensar nas meninas africanas cujo clitóris foi arrancado e em todas as mulheres que são obrigadas a cobrir-se com véus, em todas as mulheres maltratadas pelo mundo, abusadas, estupradas e em todas as que pagaram com suas vidas por esta peste mundial chamada misoginia.

Sim, eu sou feminista, para que possamos ouvir outras vozes, para aprender a escrever o roteiro da humanidade, com sua complexidade, diversidade e pluralidade. Eu sou feminista para mover a razão e impedir que ela se fossilize num discurso estéril para o amor. Eu sou feminista para reconciliar razão e emoção e, humildemente, participar na construção de sujeitos “sentipensantes” como chamou Eduardo Galeano.

Eu sou feminista e defensora de uma epistemologia que aceite a complexidade, ambigüidade, incerteza e desconfiança. Sei agora que não existe uma verdade única, uma História com H maiúsculo, ou um sujeito universal. Há verdades, histórias e contingências que coexistem com a história oficial tradicionalmente escrita por homens, as histórias não oficiais, histórias de vidas particulares, histórias de vida que nos ensinam muito sobre o outro lado do mundo, talvez seu lado mais humano.

Por fim, sou feminista por tentar atravessar uma moral patriarcal das exclusões, dos exílios, dos órfanatos e guerras, uma moralidade que nos governa há séculos. Eu tento ser uma feminista no contexto de uma modernidade que, finalmente, cumpre sua promessa para todos e todas.

Como diz Gilles Deleuze "sempre se escreve para dar vida, para liberá-la quando ela está aprisionada, para traçar linhas de fuga". Sim, vou tentar traçar para as mulheres deste país linhas de fuga que passem pela utopia. Porque acredito que um dia existirá no mundo um lugar para as mulheres, para suas palavras, suas vozes, suas demandas, seus desequilíbrios, seus transtornos, suas afirmações como seres iguais politicamente aos homens e diferentes existencialmente.

Um dia, num futuro não muito distante, eu espero que deixemos de atrair e perturbar os homens, deixemos de nos dividir em mães ou putas, em Marias ou Evas, imagens que alimentaram durante séculos o imaginário patriarcal, teremos então aprendido a fazer alianças entre o que representa Maria e o que significa Eva. Teremos aprendido a ser mulheres, apenas mulheres.

Nem santas, nem bruxas ou nem putas nem virgens, nem submissas, ou histéricas, mas mulheres, resignificando este conceito, preenchendo-o com vários conteúdos capazes de refletir novas práticas de si que nossa revolução nos entregou, mulheres que não mais precisem de amos nem maridos, mas de novos companheiros dispostos a tentar reconcilar-se com elas a partir do reconhecimento imprescindível da solidão e da necessidade imperativa do amor.

Por isso repito tantas vezes que ser mulher hoje é quebrar os velhos padrões esperados para nós, é não reconhecer-se como o que foi pensado para nós, é “extraviar-se”, como tão bem expressa a feminista italiana Alessandra Bocchetti. Sim, não reconhecer-se como o que foi pensado para nós. Por isso sou uma extraviada, sou uma feminista. E o sou, com o direito também de errar.

domingo, 2 de maio de 2010

O poder nas mãos delas (RevistaGEO)

Somente homens entendem a arte de governar? Esse preconceito foi contrariado há séculos por Elisabeth I e Catarina, a Grande, entre tantas outras governantes.

Por Mathias Mesenhöller
http://revistageo.uol.com.br/cultura-expedicoes/12/artigo167971-1.asp

Somente homens entendem a arte de governar? Esse preconceito foi contrariado há séculos por Elisabeth I e Catarina, a Grande, entre tantas outras governantes. Foi justamente a Democracia que baniu as mulheres do Poder. Mas desde os tempos de Margaret Thatcher elas estão voltando. Jamais houve tantas governantes como hoje. Elas se baseiam em outra tradição administrativa?

O avião de caça se aproxima zunindo, em voo rasante sobre a água. O barulho ensurdecedor é tremendamente violento, um pipocar que elimina todos os outros ruídos e penetra na cabeça como uma dor aguda. Os homens na fragata tampam seus ouvidos com as mãos.
A mulher não.

Nem quando um segundo "Tornado" passa, e depois um terceiro e mais um quarto. Quatro vezes ela se expõe à dor, quatro vezes tenta sorrir bravamente. Por nada nesse mundo ela quer dar aos fotógrafos a chance de tirar essa foto. Angela Merkel está em visita à Marinha da Alemanha.

Ela conhece a força simbólica das imagens. "A chanceler alemã não escuta, vira as costas. Ela é fraca." Mas quem fica sorrindo ao lado de um oficial, que se protege da barulheira, é forte. É um líder. É o chefe.

Grande parte do Poder é encenação. Poderoso é quem irradia poder. E cada vez mais fotos mostram mulheres que fazem precisamente isso: irradiar Poder. Já é o bastante para alimentar o falatório de uma "revolução feminista".

Angela Merkel - A chanceler alemã gosta de ternos, raramente usa bolsa e não tolera afetações entre seus colaboradores, sejam homens ou mulheres. Pompa? É responsabilidade exclusiva do batalhão de guarda. A "mulher mais poderosa do mundo" (segundo a Forbes Magazine) não é dada a vaidades

Mais de 80 mulheres foram eleitas chefes de Estado ou de governo desde 1945, mais de 90% delas somente após 1979. Na verdade, a maioria chegou ao Poder nos anos de 1990. Junte-se a isso todas as ministras, que há muito não são mais titulares apenas das clássicas áreas femininas.

Estamos em meio a uma mudança de caráter épico. Nunca antes tantas mulheres mandaram simultaneamente. Pela primeira vez, e de modo crescente, a pretensão feminina diante do Poder encontra, em grande parte do mundo, franco acolhimento. E quase não provoca mais aquela sensação desagradável que a acompanhou em quase todos os períodos históricos. Ao contrário, vez por outra, o que ela suscita são grandes esperanças.

Ironicamente, tais expectativas positivas se fundamentam em um argumento que durante muito tempo serviu para afastar as mulheres da atividade política: o de que elas têm uma constituição radicalmente diferente da dos homens. Elas são mais sociáveis, moralistas e empáticas. E, justamente por causa disso, inadequadas para o negócio braquial do Poder.

Essa afirmação foi inventada por volta de 1800 e, até hoje, alguns biólogos e pesquisadores comportamentais tentam prová-la. Por exemplo, com indicações de que um sistema hormonal médio feminino recompensa a cooperação, enquanto um masculino premia a competição. Ou com alegações discriminatórias de que crianças pequenas já se comportam especificamente de acordo com o gênero. Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus, resume sem floreios o título de um best-seller: eles organizam a guerra, elas o piquenique da escola.

Esta é uma tese de dois gumes. Aos conservadores, ela se afigura uma justificativa para o fato de que, apesar de todas as mudanças sociais, o número de mulheres em posições de liderança ainda é muito inferior ao dos homens, isso porque sua função natural é, simplesmente, outra.

Já os defensores das mulheres se baseiam na diferença biológica para fundamentar a esperança. Segundo eles, o poder feminino poderia livrar o mundo das guerras e crises masculinas, das rixas e lutas por status e dominação.

A História não fornece nenhuma indicação de que a Biologia tenha influído a questão de quem pode conquistar o Poder, e como ele será usado. Em vez de hormônios e modelos de atividades cerebrais, isso era determinado por regras sociais e talentos individuais. Portanto, quando e onde as mulheres podiam alcançar o Poder? Como elas governavam? Como se explica que tenham permanecido excluídas durante tanto tempo e agora festejam sua súbita revolução?

No período que precedeu o surgimento da tese das competências sociais e morais especiais das mulheres, antes do século XIX, a explicação era mais simples e sucinta: mulheres são inconstantes, pouco sagazes, inferiores aos homens tanto física, como intelectual e psicologicamente.

Por isso, elas em geral ficavam de fora enquanto o Poder era conferido a imperadores, reis, ministros. Mas, no momento em que o sangue era determinante, quando o grau de parentesco era mais importante que o sexo, elas governaram sim. Filhas herdaram tronos régios, viúvas foram regentes em lugar de seus filhos menores de idade, esposas substituíram homens incapazes.

No decorrer dos séculos, muitas mulheres governaram na Europa, imprimindo sua marca à evolução do continente. Assim, Elisabeth I pode dominar a Inglaterra da Renascença, e Catarina II transformar o Império Russo em grande potência mundial.

Foi somente no século XIX, quando o Poder passou a ser decidido em eleições, não mais através de heranças, que as mulheres desapareceram completamente do cenário governamental, excluídas sob o argumento de que não foram feitas para isso. A Democracia foi mais eficiente que o Feudalismo para eliminar o Poder feminino.

Mesmo depois de as mulheres terem conquistado o direito de votar, passaram-se décadas na Europa até que a primeira assumisse a chefia de um país: Margaret Thatcher, em 1979. A mulher considerada impertinente até por suas iguais. Mas, em retrospectiva, sua ascensão política parece ter coincidido com um período crítico: a Revolução Feminista.

Elisabeth I, Catarina II e "Maggie" Thatcher, o drama do Poder feminino no chamado "Velho Continente" pode ser apresentado, exemplarmente, em três atos. Um drama sobre a ambição que impulsionou mulheres poderosas, sobre as dificuldades que elas tiveram de vencer, e das estratégias que lançaram mão. Um drama com três personagens principais, que nos fala mais sobre as épocas em que elas viveram, do que sobre o preconceito do "eternamente feminino".

Todas as três, porém, compartilham uma experiência comum: elas não ganharam o poder gratuitamente.

Acantonamento de Tilsbury, sul da Inglaterra, 9 de agosto de 1588. O exército emudece. O vento sopra em torno das lanças dos soldados. Com os cabelos soltos, envolta em veludo branco, a rainha se ergue nos estribos de seu cavalo branco. A armadura peitoral prateada reluz.

"Eu sei que tenho o corpo frágil de uma mulher, mas tenho o coração e a coragem de um rei, e de um rei da Inglaterra!", grita Elisabeth. Antes que um príncipe espanhol penetrasse em seu reino: "Eu mesma pegarei as armas!" Eu mesma serei vosso general! Eu mesma os orientarei e recompensarei vossos atos!".

Doze mil homens, os melhores de suas guarnições, irrompem em júbilo ensurdecedor. Que os espanhóis desembarquem! Por essa mulher eles darão tudo! Defendê-la significa defender tudo o que é possível com a honra masculina.

Robert Dudley, conde de Leicester, amigo íntimo da rainha, assumirá o resto: ele anotará o discurso, mandará imprimi-lo e distribuir em todo o reino. Ele fará de tudo para imprimir esse momento, essa imagem, na fantasia nacional: sua rainha virginal, o exército decidido a tudo - antes da grande batalha decisiva da Inglaterra.

As notícias são desalentadoras. Do outro lado do Canal da Mancha encontra-se o temido exército espanhol dos Flandres, pronto para a invasão. Nesse preciso momento, dizem, 16.000 mercenários sobem nos barcos de assalto. O rei Filipe II, senhor incontestado de um império mundial que se estende da América do Norte aos Países Baixos, está determinado a derrubar a odiada mulher do trono.

Elisabeth I - Conduz a Inglaterra à "Era Dourada" (1558-1603), transforma Londres em metrópole cultural e rechaça a Armada espanhola. Mais importante: defende ferrenhamente sua própria independência, e recusa todas as propostas de casamento, sob o pretexto de já estar casada com seu povo

Elisabeth I tem 54 anos nesse dia de agosto, e reina sobre a Inglaterra há 30 dias, em oposição à persistente noção de que é necessário um homem para governar. A noção de que uma mulher no poder contraria a vontade manifesta de Deus, e constitui o fim de toda a boa ordem estabelecida, como afirmava um panfleto pouco antes de sua ascensão ao trono.

O pai de Elisabeth também pensava assim, por isso ansiava desesperadamente por um herdeiro varão a todo custo. Ao todo, Henrique VIII contrai seis matrimônios e, para obter o primeiro divórcio, engole o rompimento com o Papa, em Roma. Mas, ao morrer, em 1547, ele deixa apenas duas filhas e um filho adoentado. O menino morre antes de atingir a maioridade. Sua meia-irmã Maria tenta restabelecer o Catolicismo como religião oficial, ou seja, reaproximar a Inglaterra de Roma. Nesse processo, quase 300 Protestantes são executados. Quando Maria morre, provavelmente de um tumor, as massas invadem as ruas de Londres e festejam. É o dia 17 de novembro de 1558.

No final da manhã, lady Elisabeth Tudor está sentada sob um carvalho nos jardins do palácio de Hatfield, ao norte de Londres. O dia é gelado. Diante dela ajoelham-se os lordes do Conselho de Estado e reconhecem a única descendente viva de Henrique como soberana, de acordo com as leis inglesas vigentes.

A jovem, de 25 anos, responde aos senhores em latim, prova da educação exclusiva que desfrutou. A herdeira do trono inglês é uma das mulheres mais cultas de sua época. Não obstante, ela deverá casar-se, repassar os negócios ao marido e gerar um herdeiro homem. É o que todos têm como certo. Embora a Renascença celebre o indivíduo, ninguém duvida que até uma princesa seja obrigada a se submeter ao marido.

Só que Elisabeth começa a hesitar: casar, sim, mas com quem? Um príncipe estrangeiro, talvez um católico, um aristocrata inglês? Os anos passam. Pretendentes de toda a Europa são apresentados, consolados, recebem meias promessas, catálogos de condições impraticáveis e, por fim, recusas.

A rainha usufrui todos os privilégios de um príncipe. Ela monta, caça, dança, adora mascaradas [divertimentos de origem italiana que incluem música e dança] lascivas, comédias rudes e debates eruditos. Favoritos descartáveis desfrutam o direito de uma proximidade mais íntima com a rainha, e um constante fluxo de cartas amorosas.

Logo circulam boatos sobre excessos extravagantes, sobre bebês gestados em segredo. Para seus conterrâneos, essa mulher solteira, com seus incessantes namoricos, parece completamente desnaturada.

Mas aqueles que precisam saber da verdade, pretendentes e enviados políticos, asseguram reiteradamente que a rainha é virgem. Obviamente, Elisabeth é esperta e disciplinada demais para arriscar seu Poder na cama. Em vez disso, ela se dedica crescentemente a um culto que visa tornar suportável a incomum regência solitária de uma mulher: a personificação de Elisabeth como rainha virginal, que escolheu a Inglaterra por consorte e os súditos como "seus filhos", sedutora, mas inseduzível. E, principalmente, uma mulher que não governa pior que um homem - ao contrário.

Desde os primeiros dias no palácio real de Whitehall ela trabalha arduamente. Para a grande indignação de seus ministros, exige ler pessoalmente todas as cartas de assuntos oficiais e negocia, sem enviar resposta, com os representantes diplomáticos e seus embaixadores.

Lentamente, os dignitários compreendem que não estão lidando com uma rainha provisória, mas com uma governante ambiciosa. Elisabeth não tolera fracassos ou insubordinações. Ela grita, xinga de forma vulgar, distribui tapas atrás das orelhas de seus conselheiros, ou joga um sapato na cara de um ministro. Restabelece a independência da Inglaterra em relação à Roma, mas mantém muitas tradições católicas. Também julga os rígidos ideais morais dos fundamentalistas protestantes impertinentes. Somente quando surgem as primeiras indicações de um complô contra a fidelidade papal, a rainha cede aos ânimos populares e suprime a fé católica romana.

Rebeldes religiosos, insultuosos contra Sua Majestade, ladrões de rua comuns: quem se insurge é chicoteado, mutilado e não raro, executado. Só na praça de execução londrina de Tyburn, 6 mil delinquentes são enforcados, decapitados ou esquartejados como criminosos que, durante seu reinado de quase 45 anos, atentaram contra o Estado.

Em paralelo a isso, o comércio e os negócios, a arte e a vida intelectual florescem livremente. Mercadores ingleses navegam cada vez mais para longe, atracando nas colônias espanholas do Continente Americano, onde realizam prósperos negócios e não se furtam nem à pirataria, nem ao sequestro de navios alheios.

Por fim, os espanhóis preparam um contra-ataque. Em 1588, uma frota de 130 navios e 30 mil tripulantes zarpa de Lisboa. Eles devem unir-se ao exército de Flandres, que embarcará em botes de assalto no Canal da Mancha, para atacar a ilha. O plano é ousado, mas o adversário é apenas uma mulher.

Elisabeth negociou até o fim para tentar evitar o confronto armado. Ela odeia guerras, pois tais eventos arruínam os cofres públicos. Antes de tudo, porém, guerra é assunto para homens. A rainha teria de conferir poderes a um comandante militar, compartilhar com ele, em caso de vitória, um prestígio precioso. Essa é uma das razões que a leva a encenar o atraente papel de "rainha da paz".

Mas agora a guerra é iminente. No auge da crise, Elisabeth viaja até Tilbury e se coloca à frente de suas tropas. Ao discursar, já sabe que a invencível Armada de Filipe foi castigada pelos capitães ingleses, e como por milagre, fustigada pelos ventos de uma tempestade. Os britânicos falam de um "vento Protestante". Finalmente, à meia-noite, chega a notícia alvissareira: os espanhóis suspenderam a partida para a Inglaterra das tropas acantonadas em Flandres.

Durante os anos de vida que ainda lhe restam, Elisabeth transforma-se definitivamente em um ícone vivo.

Ela entretém a corte, maquiada de branco, com uma peruca avermelhada, cravejada de pérolas.
Em plena idade avançada, desconcerta e escandaliza o embaixador francês com um vestido decotado até o umbigo, revelando sua barriga há muito enrugada. Ao morrer, em 1603, aos 69 anos, Elisabeth reinou 44 anos e quatro meses com inteligência, rigor e muita vocação para encenações que transformaram em benefício a desvantagem de sua condição feminina. Como rainha inatingível, venerável e virgem, ela não deixa um herdeiro, mas também jamais teve se de sujeitar a um homem. Ela foi o seu próprio monarca.

Catarina II - Aos 14 anos, esta filha de um general prussiano chega à Rússia. Aos 33, ela derruba seu marido do trono e se torna czarina. Ao longo de 34 anos Catarina ampliou seu Poder até a soberania da Rússia se estender da Crimeia ao Mar Báltico. Envolvida em intensa correspondência com pensadores do Iluminismo, mostra-se como grande reformadora: reorganiza a administração pública, funda escolas e moderniza o código penal
Pois "monarca" é precisamente a categoria em que Elisabeth se autoenquadra. As limitações a que está sujeita podem ser grandes, no entanto a simples noção de ter tido qualquer coisa em comum com uma camponesa ou a filha de um comerciante, só por ser mulher, teria lhe parecido completamente absurda. O nascimento e a posição; é com base nisso que as pessoas identificam a época de Elisabeth.

Em determinado círculo social, porém, faz grande diferença ser um homem ou uma mulher. A autoprojeção de Elisabeth como virgem reflete uma limitação existencial.

Um "monarca" feminino é obrigado a abrir mão de liberdades que um monarca masculino consideraria indiscutivelmente naturais, como as liberdades sexuais, por exemplo.

Tanto seu pai Henrique VIII, como seu irmão, se fazem retratar como empolados símbolos de sexualidade e virilidade. Nos retratos eles sempre deixam a mão nas proximidades do sexo, da protuberância assinalada pelas apertadíssimas calças da época. No decorrer dos séculos, os reis franceses também computaram em honra própria seus incontáveis atos heroicos e eróticos.
Encenar o próprio desejo como forma prazerosa de seu Poder, e dessa forma experimentar a plena autonomia monárquica, é um luxo negado a Elisabeth.

E também às mulheres que agora governam a Europa com crescente frequência, como as viúvas da Monarquia, que reinam em nome dos filhos menores de idade. Elas são obrigadas a, pelo menos, aparentar virtuosidade.

Mas no século XVIII os limites da moralidade se deslocam. De início, a educação contribui menos para isso que a ampliação do Poder Monárquico. A violência dos soberanos aumenta e, em certos lugares, atinge o absolutismo, o que desperta o desejo de compartilhar esse poderio, indiscriminadamente, com qualquer confidente.

Luís XV, da França, permite-se tomar uma plebeia rica como amásia, conceder-lhe rapidamente um título de nobreza e lhe facilitar notável influência em assuntos nacionais. Como Marquesa de Pompadour, ela se transforma na amante mais poderosa de sua época.

Ela não é, nem de longe, a única. Até o final do século, a escritora Mary Wollstonecraft se queixa de que as mulheres gozam de poder excessivo: um poder ilegítimo, derivado de seus favores sexuais sobre monarcas e altos funcionários.

Com isso também se abrem novas esferas de ação para mulheres aristocratas. Quase nenhuma outra se mostra tão moralista como a imperatriz Maria Teresa da Áustria, que reina de 1740 a 1780, como boa mãe de seus súditos e de seus 16 filhos legítimos ao lado de um marido notoriamente infiel. Se quisesse, ela poderia ter alegrado o trabalho de reinar com um de seus ministros ou generais.

Ao amanhecer do dia 28 de junho de 1762, os tambores rufam violentamente no pátio interno da caserna do Regimento de investiGuarda Imperial Ismailowskij, nos arredores de São Petersburgo. Com o sono ainda nos olhos, os soldados se apressam para perfilar. Diante deles encontra-se a grã-duquesa Catarina. Ao seu lado, no uniforme verde e vermelho do batalhão Preobrazhenski, a mais requintada das quatro unidades da Guarda, Grigori Orlov, seu confidente e amante.

Catarina não necessita de muitas palavras para conquistar os homens para um ato impensável, embora não tão incomum na história russa, como a revolta palaciana. O alvo é o marido de Catarina, o czar Pedro III, que ocupa o trono há seis meses, um excêntrico, que treina cães e lacaios com o chicote, um beberrão infantil, cruel e, muito provavelmente, impotente. No âmbito pessoal, um fracasso humano; no âmbito político, um idiota.

As tropas irrompem em júbilo, se adiantam, beijam as mãos de Catarina e a barra de seu vestido preto. O regimento entra em formação e segue para o centro da cidade. No caminho, outros soldados se unem à marcha. Eles avançam rumo à Catedral de Kazan, onde os sacerdotes cumprimentam Catarina com ícones nas mãos. O bispo de São Petersburgo a proclama soberana única da Rússia, e os sinos repicam em comemoração.

À noite, Catarina veste o uniforme de um coronel da guarda, monta em um cavalo branco e, com o sabre desembainhado, coloca-se à frente das tropas reunidas para prender Pedro. Ele não resiste. Em pouco mais de uma semana, será morto pelos seguidores de Catarina.

Margaret Thatcher Em 1970, como Ministra da Educação e Ciência, ela ainda sustenta o governo do primeiro-ministro Edward Heath. Nove anos mais tarde, é ela quem se torna primeira-ministra da Grã-Bretanha, e enaltece as vantagens de sua liderança feminina: "Se precisarem de alguém que profira discursos, peguem um homem. Se houver um problema para ser resolvido, é melhor que perguntem a uma mulher"

Foi, para a princesa Sophie de Anhalt-Zerbst, uma longa jornada. Enviada à corte russa com a reputação de adolescente indisciplinada, a fim de gerar descendentes para a dinastia Romanov, ela se converte à Igreja Ortodoxa Russa, recebe o nome de Catarina, e sofre com a debilidade de seu marido. Aos poucos, e de maneira silenciosa, ela conquista a confiança e a lealdade dos guardas imperiais, algo imprescindível para uma czarina.

Catarina possui talento para conquistar pessoas e estabelecer laços de união. A maior parte de seus subordinados investidos de cargos elevados a servem por muito tempo. Seu favorito, Orlov, permanece ao seu lado durante 12 anos. E o brilhante Grigori Potemkin lhe é fiel até o fim da vida, mesmo após o turbulento affair amoroso com a czarina.

Mas então seguem-se incontáveis favoritos, cada vez mais jovens e mais insignificantes. Um enviado prussiano relata sobre problemas no ventre da czarina, resultantes de um relacionamento com seu filho ilegítimo. Por fim, até o boato de que Catarina havia praticado sodomia com seu cavalo ganha credibilidade.

Com a idade, ela se torna excessivamente vaidosa, e perde a noção dos limites. O ceticismo diante das ideias do Iluminismo, que havia adotado com tanto entusiasmo de filósofos franceses e historiadores ingleses, também se amplia. Evidentemente, alguns projetos do programa de reformas que adotara eram pura propaganda, numa exposição da própria monarca culta que se correspondia com o iluminista Voltaire, recebia na corte o colega dele, Diderot, e redigia tratados eruditos.

Ainda assim, Catarina reorganiza com eficiência a administração pública, aprimora a educação e, de modo geral, exerce uma política de "absolutismo iluminista", como é moda entre os monarcas de sua época. Assim, ainda em vida, ela recebe o predicado "a Grande".

Em outro plano de atuação, Catarina manda esmagar rebeliões ao estilo inclemente de Elisabeth. Como a soberana britânica, também a governante dos russos mantém certa reserva diante de aventuras militaristas, e pelos mesmos motivos que Elisabeth alimenta. No entanto, Catarina conduz algumas guerras bem-sucedidas, amparadas por uma diplomacia inescrupulosa. Dos rediturcos ela arrebata grandes extensões de terras que cercam o Mar Negro. À época do fim de seu reinado, a Polônia desaparece do mapa-múndi, o território foi dividido entre a Rússia, a Áustria e a Prússia.

Em dezembro de 1796, Catarina é sepultada como o última ícone de sua espécie: uma monarca absolutista, culta, que se sobrepõe às limitações de seu sexo. Mestra venerada abertamente pela elite da corte: uma nata social em nada vinculada às massas. Para a aristocracia, o povo é, simplesmente, uma outra espécie.

Mas ainda durante os últimos anos de vida de Catarina, começa a se delinear na Europa uma transformação épica.

Na Paris revolucionária, o povo, no quadriênio de 1789 a 1793, conquistou a soberania, declarou a República e decapitou o rei. Séculos de monarquia e magnificência agonizam. Lentamente. Um lema incomum percorre o mundo: "Liberdade, Igualdade, Fraternidade".

Paralelamente, os slogans populares e os filósofos lançam novas ideias sobre homens e mulheres: não tratam da igualdade, mas sim da desigualdade.

Dificilmente uma outra época separa tão rigorosamente os "caracteres sexuais", distinguindo homens de mulheres, como o Modernismo. De agora em diante, a mulher suave, empática e sensível, amante da virtude ("competência social") será confrontada com o homem enérgico, dinâmico e, paralelamente, violento, egoísta e imoral.

Homens são de Marte, mulheres são de Vênus: a dura Biologia da natureza dos sexos é inventada por volta de 1800. Desde então, o fantasma persiste no ar. Enquanto o postulado ganha adeptos convictos de que monarcas e povo, aristocracia e camponeses pertencem à mesmíssima raça humana, os dois gêneros agora estão literalmente separados por universos distintos. Como seres de outros planetas, eles são divididos em esferas nitidamente delimitadas.

A bondosa mulher, o homem mau. Em uma ironia fatal, é justamente a elevação moral das mulheres que as expulsa das proximidades do Poder. A era burguesa lhes reserva a tarefa de civilizar o homem. Mulheres devem casar, organizar uma confortável vida doméstica e, desse modo, domar a questionável tendência masculina ao impulso, à inconstância. Enquanto o homem ruma cada vez mais para a combalida vida pública, deformada por crescentes guerras revolucionárias, processos de industrialização e lutas sociais, ela proporciona uma vida social baseada na moralidade.

Ocasionalmente, a Democracia é acusada de ter-se mostrado incompetente para evitar o despotismo dos homens. Mas foi pior que isso: justamente a Democracia barrou o acesso das mulheres ao Poder, e com mais rigor do que qualquer outra forma de governo anterior. Durante quase 200 anos, o Poder será um campo livre de mulheres.

Apesar disso, elas, pouco a pouco, conquistam o direito do voto. Na Europa, a primeira nação a adotar o sufrágio universal foi a Finlândia (1906). A partir de 1918, seguiram-se muitos países do Leste Europeu e a Rússia. A Itália concedeu o voto feminino em 1925, a Espanha fez o mesmo em 1933, a Bulgária em 1944, a Croácia em 1945 e a Grécia em 1949. Em outras partes do mundo, as mulheres também são aceitas como eleitoras: na Turquia, em 1930, no Brasil, em 1933, na Índia, em 1950.

Mas, embora as mulheres agora possam votar em massa, o equilíbrio do Poder só se altera lentamente. Isso apresenta várias causas: agremiações masculinas, a fragmentação social do eleitorado, reflexos conservadores. Porém, uma outra razão flagrante é que a moderna ideologia dos sexos estrangula qualquer pretensão feminina ao Poder.

Nas primeiras sete décadas do século XX, as mulheres só têm uma chance de conquistar democraticamente o poder político naqueles países onde o antigo princípio dinástico ainda perdura.

Pesquisadores da Universidade Hildesheim examinaram o fenômeno e sempre chegaram aos mesmos nomes: Sirimavo Bandaranaike, no Sri Lanka (1960), Indira Gandhi, na Índia (1966), e, um pouco mais tarde, Isabel Perón, na Argentina (1974): todas eram filhas ou viúvas de estadistas lendários. E apesar de necessárias para a satisfação de seus povos, elas, em parte, só dispunham de um Poder simbólico. É o modelo feudal em trajes democráticos.

Galgar a escada da ascensão social e, simultaneamente, conquistar a emancipação sexual, foi façanha de uma mulher que até hoje ainda suscita certa incredulidade e horror nas mentes de muitas feministas.

Inverno de 1978/79. Nas ruas britânicas ratos reviram montanhas de lixo. Os postos de gasolina estão fechados. Motoristas de ambulâncias não reagem aos chamados de emergência. A British Rail (Ferrovia Britânica) emite os comunicados à imprensa mais sucintos de sua história: "Hoje não circularão trens". Os sindicatos na Grã-Bretanha estão mergulhados na rotina das greves. O caos se abate sobre uma economia já estagnada. Imobilizadas, companhias estatais gigantescas registram resultados no vermelho. O índice de inflação flutua ao redor dos 10%; o desemprego atinge alta recorde.

Nesse inverno de anarquia, em que a cidade de Liverpool já nem consegue mais enterrar os seus mortos, os discursos radicais contra o poder sindical e a economia nacional ganham adeptos, discursos que estão entre os preferidos da líder conservadora da oposição: Margaret Thatcher.

Margaret Hilda Roberts nasceu em 1925, em Grantham, pequena cidade nas Midlands [centro oeste da Inglaterra]. Atrás do armazém de seu pai começa um mundo triste e desolado de cervejarias e ruas estreitas ladeadas por compactas casas de operários.

Sua família acredita em economia, diligência e cultura, mas principalmente em moralidade. O pai formula suas convicções em máximas claras: "Trabalhe arduamente". "Siga seu próprio julgamento". "Sirva sua comunidade".

Margaret consegue ser admitida na Universidade de Oxford, conhecida por receber os filhos da elite da sociedade britânica, e estuda Química. Mas se sente uma estranha no ninho. As jovens que conhece em Oxford vêm das caras escolas particulares, e pertencem ao grupo sóciopolítico da esquerda liberal, elas torcem o nariz quando a colega provinciana, que usa vestidos costurados em casa, ingressa no Partido Conservador.

Após sua graduação, Margaret casa-se com o bem-sucedido empresário Denis Thatcher e dá à luz a gêmeos. Em 1959, é eleita para a Câmara dos Comuns - uma de 25 mulheres entre 600 homens.

A deputada Thatcher é eloquente, trabalhadora; só dorme quatro, no máximo, seis horas por noite.

Nomeada Secretária de Estado para Assuntos Sociais, é designada Ministra da Educação e Ciência, em 1970.

Os meios de comunicação vibram. Uma mulher vistosa no Parlamento, uma mãe no ministério, isso é novidade. Mas quando Thatcher corta a distribuição gratuita de leite nas escolas, a oposição e a grande imprensa dão meia-volta: uma mulher que nega leite às crianças! Um orador a chama de "mulher reacionária das cavernas". "Acabem com a vagabunda", ecoam os comentários de bastidores.

Mas ela continua apostando no confronto, inclusive na arena político-sexual. Aborto, igualdade. Thatcher sempre vota, previsivelmente, à direita. "Feministas", diz ela, "são mulheres que gostariam de ganhar algo de presente, sem ter que trabalhar por isso". E julga ter conhecido os tipos: as de Oxford. Margaret Thatcher não gosta delas.

Mercê dessa postura, Thatcher está mais próxima do eleitorado conservador até mesmo do que o líder do partido, Edward Heath. Já faz tempo que as bases partidárias exigem uma política mais dura contra imigrantes, ensino unificado, sindicatos, revoltas estudantis. Subitamente discutem-se ideias há muito difamadas: mercados livres, privatizações, redução de impostos.

Quando Heath não consegue mais contê-la, Thatcher é eleita, no dia 11 de fevereiro de 1975, como a primeira mulher dirigente dos Tories.

A nova líder da oposição deixa-se fotografar de avental na boca do fogão, fala de compras e de lavar roupa: pacifica o medo dos homens, e oferece às mulheres a oportunidade da identificação. Se ela tem resistência para tanto? Ela a tem, como toda mulher obrigada a levantar à noite para cuidar dos filhos. Comparativamente, a Política seria apenas a doddle, uma brincadeira.

Margaret Thatcher não esconde sua condição feminina; ao contrário, se aproveita dela. E não se furta em interpretar os papéis que homens aceitam como sendo inerentes à autoridade feminina: a política conservadora explica a situação à nação da maneira que uma professora rigorosa o faria, e, ao mencionar suas reformas, aparenta ser uma médica receitando o tratamento.

Em 1979, no momento da queda do governo trabalhista, o gênero de Thatcher funciona para ela mais como vantagem do que como uma desvantagem; só que, agora, isso já não é tão importante.

Dois anos e meio depois. Com apenas 25% de aprovação, Margaret Thatcher é a primeira-ministra mais impopular da Grã-Bretanha, desde o início da época em que a popularidade dos políticos passou a ser aferida por pesquisas de opinião. A inflação, o desemprego, as quebradeiras financeiras não regridem; ao contrário, aumentam. Greves desembocam em tumultos, o Partido fica nervoso. O Gabinete oscila perigosamente.

Nessa época, Thatcher comete um erro crasso, que lhe renderá o mandato mais longo de um primeiro-ministro britânico no século XX.

As Ilhas Malvinas. Território de Sua Majestade no Atlântico Sul e herança do império, elas consistem em um agrupamento de rochas seminuas, habitadas por 1.800 pessoas e alguns milhares de carneiros. Situadas a apenas 500km do litoral da Argentina, as ilhas são, há tempos, reivindicadas pelo governo de Buenos Aires.

Quando o governo Thatcher dá a impressão de que não tomará uma atitude, caso a situação nessa região do Atlântico fique séria, tropas argentinas invadem e ocupam o arquipélago nos dias 1 e 2 de abril de 1982.

Thatcher realmente se enfurece com a violação dos direitos internacionais, mas, valendo-se de um raciocínio frio, também entende que aqui se trata de sua própria manutenção no cargo.

A 3 de abril, ao se dirigir à Câmara dos Comuns, é vaiada na rua, por transeuntes. Os deputados estão com ânimos beligerantes. Mas o que a primeira-ministra lhes anuncia supera todas as expectativas: um comando avançado da frota britânica zarpará da Inglaterra em direção ao Atlântico Sul dentro de 48 horas.

Uma guerra travada a 12 mil km de distância é risco puro. Dois dias depois, multidões jubilosas invadem o cais do porto de Portsmouth. No ar, o clima de excitação parece indicar uma era de restauração do império e, com ele, a volta da grande rainha guerreira de outrora: Elisabeth I.

No fim da guerra das Malvinas, 225 britânicos e 649 argentinos morrem em uma batalha que, felizmente, as tropas de Thatcher vencem, em grande parte graças ao tempo. Como em 1588.
O conflito, na realidade, constitui o verdadeiro início da Era Thatcher. Durante os próximos oito anos, ela dominará a política interna britânica como quase nenhum outro premier antes dela.

Seu estilo destruirá o empedernido socialismo sindical, e ainda combaterá o Estado de seguridade social, que há tempos se encontra desmantelado. No âmbito de seu partido ela procura esvaziar o poder da velha elite, nascida em berço de ouro, e a influência dos privilegiados estudantes de escolas particulares.

PESQUISA SEXUAL
Mitos da diferença

O cérebro feminino funciona de modo diferente do masculino? As pesquisas de Rosalind Barnett, da Universidade Brandeis e de Caryl Rivers, da Universidade de Boston, esquentam essa discussão nos Estados Unidos

As mulheres são o sexo tagarela. Elas são as comunicadoras da sociedade. As áreas da fala em seus cérebros são maiores que as dos homens, e o sexo feminino é, por natureza, o que desperta mais empatia". "Homens têm cérebros que lhes permitem enxergar melhor através de correlações, e são muito hábeis para empregar e aproveitar seu poder. Homens falam menos, e não carregam no sangue a necessidade de se preocupar excessivamente com os outros". Essas frases soam familiares a você, leitor? Na década passada, elas conformaram uma sabedoria generalizada, quase irrefutável: meninos e meninas são diferentes, simplesmente, por que suas estruturas cerebrais são distintas! Uma ideia que produziu best-sellers e vários tratados sobre educação infantil.

Entretanto, uma análise crítica dos fatos reais, subjacentes a essas afirmações, mostra que parte delas não se baseiam em evidência alguma, e até ocultam a inexistência de uma pesquisa séria que ampare o jargão científico. Outras afirmações se baseiam em estudos questionáveis, conduzidos com métodos comprometidos e de significados limitados. É verdade que os cientistas descobriram algumas diferenças notáveis na anatomia cerebral dos sexos, mas sabemos muito pouco sobre como elas se manifestam na conduta de garotos e garotas.

A ideia de diferenças cognitivas entre homens e mulheres tem profundas raízes históricas. Na Era Vitoriana, os sábios viam o cérebro do homem, em geral um pouco mais volumoso, como justificativa para representar sua superioridade intelectual. Além disso, os peritos da Medicina partiam do princípio de que era impossível que o cérebro e os ovários femininos se desenvolvessem ao mesmo tempo: um acúmulo de conhecimento em excesso nos jovens cérebros femininos colocava em risco a maternidade.

Essas noções equivocadas foram corrigidas no século XX. Aceitou-se, de modo geral, que o volume cerebral é proporcional ao tamanho físico da pessoa e que, sozinho, ele nada pressagia sobre a inteligência. A partir desse reconhecimento, na década de 1970 o movimento feminista apresentou reivindicações sociais abrangentes. Mas nos anos 90, a tendência pareceu reverter novamente. Surgiram novos resultados neurológicos provocantes, mas não conclusivos. Movidos por certa preocupação quanto ao papel das mulheres, uma infinidade de livros sobre o tema proporcionou negócios agitados e lucrativos para as editoras ao redor do mundo.

Os títulos vão desde Porque é que os Homens Nunca Ouvem Nada e as Mulheres Não Sabem Ler os Mapas de Estradas (Barbara e Allan Pease) e Garotos e garotas aprendem de forma diferente (Michael Gurian) até Por Que o Gênero Importa? (Leonard Sax). Durante algum tempo, as vendas do ancestral de todas essas obras Homens São de Marte, Mulheres São de Vênus, de autoria do terapeuta familiar John Gray, chegaram a superar as da Bíblia.

A linha de argumentação dos autores frequentemente envolve tênuas explicações neurológicas. Com base em um estudo muito limitado, com apenas 19 participantes, o psicólogo americano Leonard Sax afirmou que "garotos são naturalmente privilegiados na Matemática em razão de sua vantagem anatômica natural". Enquanto os voluntários olhavam imagens de rostos ou pequenos círculos brancos, a irrigação de seus cérebros era medida por meio de tomografias de ressonância magnética. Os dados desse exame mostram que as variações e os desvios de pessoa para pessoa são tão grandes, que não faz o menor sentido chegar a conclusões abrangentes entre os sexos como grupos isolados.

A colega de Sax, Diane Halpern, do Claremont McKenna College, na Califórnia, revisou uma série desses estudos sobre diferenças cognitivas. E descobriu que ocorre uma variação muito maior dentro dos próprios grupos do que entre os gêneros em si.

Alguns especialistas e meios de comunicação insistem reiteradamente que meninos são biologicamente programados para se concentrar em objetos, enquanto meninas dirigem seus olhares para pessoas. Essa noção se baseia em uma pesquisa com recém-nascidos, conduzida em 2003 pelo psicólogo britânico Simon Baron-Cohen. Em um teste com 100 bebês ele constatou: os meninos olhavam muito mais tempo para móbiles e as meninas, para rostos. Entretanto, o trabalho de Baron-Cohen foi duramente criticado, desde o início, por Elizabeth Spelke, professora de Psicologia da Universidade Harvard. Na publicação American Psychologist ela aponta: os métodos utilizados nos experimentos não foram aplicados corretamente. Os bebês poderiam ter sido influenciados, de forma inconsciente, pelos adultos De todo modo, existe uma quantidade enorme de literatura científica que mostra claramente que bebês de ambos os sexos se concentram com igual intensidade em objetos e pessoas. E quanto às aptidões de fala? Os meninos de fato são menos capazes? Não. Em 2005, Janet Hyde, da Universidade de Wisconsin, reuniu dados de 165 averiguações e concluiu: embora uma ligeira superioridade feminina possa ser comprovada marginalmente, ela não pode ser aplicada na prática, quando se quer estabelecer a diferenciação de gêneros. Mesmo assim, a ideia da falta de talento idiomático dos meninos parece resistir teimosamente. Há estudos mais relevantes que provam que a competição masculino-feminina não é, de fato, decisiva. O estudo mais recente mostra um empate técnico: mulheres pronunciam 16.215 palavras por dia, homens 15.699. Como a ciência ganha cada vez mais importância em debates públicos e políticos, não é de surpreender que as meias verdades neurológicas das duas "frentes" sejam utilizadas como "provas". Mas a ciência não deveria ser usada como uma desculpa esfarrapada para que acreditemos naquilo que desejamos acreditar. Antes, ela deveria ser entendida como o estágio inicial de um caminho que pode nos levar a uma nova compreensão do mundo.

Incessantemente, cita suas origens; e fala das virtudes de Alderman Alfred Roberts, seu pai. Mas para Roberts, as reações das bolsas de valores e dos mercados financeiros, que ela desencadeia, não teriam passado de um perverso jogo de azar. Ele, simplesmente, teria amaldiçoado o maciço consumo a crédito que aquece a economia britânica.

Em termos econômicos, a revolução de Thatcher é um sucesso. Entretanto, no decorrer dos anos, "Maggie" começa a extrapolar, e rebate, agressiva e indiscriminadamente, ministros, jornalistas e chefes de Estado estrangeiros. No outono de 1990, quando sua arrogância torna-se insuportável, e ameaça as chances eleitorais dos Tories, o Partido derruba sua primeira-ministra.

Dizem que, na época, meninos britânicos perguntavam: "Papai, será que um homem também pode tornar-se primeiro-ministro?".

Nesse ponto, depois de Sirimavo Bandaranaike, Indira Gandhi, Isabel Perón e Golda Meir, Margaret Thatcher melhorou consideravelmente as chances das mulheres na Democracia.

Por outro lado, existe um retrato tirado no dia em que Thatcher festejou a posse em áureos tempos, no segundo ano depois que deixou o cargo de Primeira-Ministra. 26 homens de smoking cercam uma mulher em um vestido longo de brocado. Cavaleiros em preto e branco e uma rainha Tudor. Uma só.

Em seus 11 anos como primeira-ministra da Grã-Bretanha, Thatcher tolerou apenas uma vez uma outra mulher ao seu lado no Gabinete, pelo espaço de dois anos.

Ela não queria melhorar as chances das mulheres. Ela queria aproveitar a sua oportunidade. Como Elisabeth e Catarina. Ainda assim, em retrospectiva, o ano de sua posse, 1979, chega a parecer uma mudança de era.

Desde então, a lista de chefes de governo e de Estado femininas cresce ininterruptamente: Gro Harlem Brundtland, na Noruega; Milka Planinc, na Iugoslávia; Mary Robinson, na Irlanda; Tansu Çiller, na Turquia; Édith Cresson, na França; Julia Tymoshenko, na Ucrânia; Angela Merkel na Alemanha.

Nos anos de 1970, a vanguarda da Revolução Feminista chegou às centrais do Poder. E essa vanguarda era constituída dos primeiros grupos de mulheres que se beneficiaram de um épico crescimento cultural, de uma ampliação das chances profissionais e das ofertas estatais de assistência infantil.

Hoje, na maioria dos países industrializados as mulheres possuem uma formação acadêmica superior a dos homens; muitas exercem uma profissão. Lideradas pelo feminismo, as mulheres experimentam, desde 1945, uma transformação fundamental em seus papéis, na sua sexualidade, em suas chances de trabalho e de exercer o Poder.

O fato de ocuparem apenas uma fração das posições de liderança, parece, cada dia mais, configurar um anacronismo. Ainda há, contudo, um longo caminho a percorrer.
Em todo o planeta, apenas 20% dos cargos legislativos são ocupados por mulheres. Nas altas esferas administrativas da Europa, sua participação é até significativamente inferior a isso. A "diferença dos sexos", a distância entre eles, continua estrepitosa.

Isso é tão sabido como os esforços de correção. Alguns partidos, como os Verdes, e alguns países, França e Suíça entre eles, exigiram cotas de mulheres para mandatos políticos. As leis da Noruega determinam, além disso, que 40% de todos os conselhos administrativos sejam integrados por representantes femininas da sociedade. Na Espanha existe legislação similar.
O que isso contribuirá para uma mudança na sociedade, ou na Política?

Provavelmente muito, e, ao mesmo tempo, pouco. Muito, porque haveria mais mulheres no poder, o que é desejável por ser o objetivo. Pouco, porque a Política dificilmente experimentaria mudanças.

Elisabeth I, Catarina II, "Maggie" Thatcher e muitas outras mulheres conquistaram, e usaram, o Poder de acordo com as regras vigentes em seus países e épocas. Elas aproveitaram as chances, e assimilaram as exigências que resultaram de preconceitos em vigor.

Mas não existem indícios de que, devido à sua "natureza", elas tivessem se desempenhado como personagens de maior empatia do que os homens, mais competentes do ponto de vista social, ou mais zelosas acerca da necessidade de consenso do que empenhadas no conflito.

A constatação combina com as teses de Rosalind Barnett, da Universidade Brandeis, perto de Boston, EUA. Barnett adverte: muitos estudos comprobatórios da diferença de conduta entre os sexos averiguam apenas os extremos. Os detalhes, segundo Barnett, são exagerados e inflacionados pela mídia, afinal, a indústria "Marte-Vênus" quer ser alimentada (veja Box à página 38). "Existem muito mais coincidências que diferenças entre os sexos", diz Barnett.

Desde 1993, a Índia empreende o maior esforço de sua história para levar as mulheres ao Poder. Ali é obrigatório que 33% de todos os representantes municipais, distritais ou de povoados sejam femininos, na pior hipótese através da cota. De início a medida foi recebida com resistência, porque a maioria da população desejava ter homens como representantes.

Agora, um estudo revelou que nos lugares administrados por mulheres os preconceitos diminuíram significativamente, e suas chances de também vencer eleições livres aumentaram nitidamente. Esther Duflo, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), autora do estudo conclui: "A visibilidade das mulheres no Poder reduz os preconceitos contra elas"
Portanto, o mundo fica mais justo e inteligente quando mulheres conquistam o Poder. Não porque governem de forma radicalmente diferente dos homens, mas porque a maior parte dos boatos sobre alegadas diferenças entre os sexos circula menos.

Mathias Mesenhöller, nascido em 1969, é pesquisador - assistente no Centro de Ciências Morais, História e Cultura da Europa Central, em Leipzig. É também colaborador regular de GEO

O desejo feminino de poder
O sexo dirigente: governantes famosas em 3.500 anos de História mundial

1479 a.C.
Hatshepsut

A rainha (1479-1458 a.C.) deixou-se imortalizar como um governante masculino através de magníficas construções às margens do Nilo: com barba imperial e toucado de Nemes (como os faraós). O busto de Hatshepsut no Museu Egípcio de Berlim pode ser uma falsificação

51 a.C.
Cleópatra VII

Governou com o corpo. Cleópatra (69-30 a.C.) seduziu os comandantes militares romanos Júlio César e Marco Antonio. Um terceiro, Otaviano, resiste a seus encantos, e a enfrenta como inimiga de Roma, anexando seu império. A última rainha do Egito comete suicídio com veneno

690
Wu Zetian
Durante os diferentes períodos históricos do Reino do Meio, na China, mulheres governaram no lugar de sucessores enquanto eles eram menores de idade. Mas, além da concubina Wu Zhao (690 a 705), nenhuma ousou usar o título de imperatriz. Seu nome imperial era Wu Zetian

1056
Agnes de Poitou
Regente do Sacro Império Romano-Germânico, entre 1056 e 1062, no lugar de seu filho, o futuro imperador Henrique IV. Até o menino ser sequestrado e ela, destronada

1184
Tamar da Geórgia
Seus conterrâneos a veneram até hoje como a mais competente de todos os monarcas georgianos. A "bondosa rainha" Tamar (1184 a 1213) impressionou por sua habilidade militar, e capacidade de rechaçar inúmeros ataques turcos

1474
Isabel I de Castela
Ela abre o caminho para a Espanha tornar-se uma potência mundial, unifica vastas regiões da Península Ibérica graças ao seu casamento com Fernando II de Aragão, e envia Cristóvão Colombo em suas viagens ao ultramar. Reinou com sabedoria e crueldade. Até seu último suspiro (1504), ela perseguiu implacavelmente judeus e muçulmanos

1488
Catarina Sforza
Para seus contemporâneos a "Tigresa de Forlì" é a mais bela e corajosa representante de seu sexo: em 1488, ela se vinga sangrentamente do assassinato de seu marido, e depois governa durante 12 anos o Principado de Forlì

1559
Margarida de Parma
Em nome da Espanha, a filha ilegítima de Carlos V e de uma flamenga governa os Países Baixos como regente durante oito anos. Mas não se mostra à altura de uma rebelião. Em 1567, cede o lugar a um homem

1561
Maria Stuart
Viveu uma vida confusa e trágica. Com apenas seis dias de idade torna-se rainha da Escócia (1542-1567); em 1561 assume o governo. Casa-se três vezes e parece ter-se envolvido continuamente em casos amorosos e complôs. Por ordem de Elisabeth I, passa 18 anos encarcerada antes de, finalmente, ser executada

1610
Maria de Médici
Graças ao seu dote, o rei da França Henrique IV salda suas dívidas. Mais tarde, governa no lugar do filho, que é menor (1610-1617). Mas o rapaz, exasperado, irá bani-la

1611
Nur Jahan
Em 1611, a persa Mehrunnisa casa-se com o grão-mongol da Índia. Enquanto o marido, viciado em ópio, vegeta até a morte, em 1627, ela controla a corte e o império com pulso firme, e recebe o título honorífico de Nur Jahan, "A luz do mundo"

1624
Njinga Mbandi
Quando seu irmão morre, em 1624, ela assume o trono do reino de Ndongo, no território hoje ocupado pela Angola. Com suas táticas astutas, resiste durante anos ao colonialismo português, e luta energicamente contra os europeus caçadores de escravos, embora ela própria comercialize seres humanos

1643
Anna da Áustria
Educadora cuidadosa, regente sábia e política fria. A rainha (1643-1651), procedente da Espanha, entrega ao seu filho Luís XIV um reino bem organizado. O alicerce sobre o qual o "Rei Sol" construirá sua monarquia

1644
Cristina da Suécia
Ela tem apenas cinco anos quando seu pai Gustavo II Adolfo tomba na Guerra dos Trinta Anos. Conscienciosa, assume, aos 18 anos, o Reino da Suécia. Extremamente culta, Cristina atrai sábios e artistas para sua corte (no retrato, René Descartes é o segundo à direita). Após dez anos no Poder, ela renuncia para se dedicar à Arte e às Ciências, em Roma

1725
Catarina I
A serva, um despojo de guerra, é indicada ao imperador como "pequena deliciosa". O czar Pedro I casa-se com ela e transforma seu grande amor em herdeira do trono (1725-1727)

1745
Madame Pompadour
Em 1745, o rei Luís XV escolhe justamente uma plebeia como amante. Ele a ouve e ela, extremamente culta e hábil, ascende ao cargo secreto de conselheira do rei, tornando-se uma das mulheres mais poderosas de sua época

1837
Rainha Vitória

Ela ocupa o trono britânico durante 63 anos (1837-1901), muito mais que todos os seus antecessores, e empresta seu nome a uma época. Ainda assim, a partir de certo momento sua voz obtém repercussão cada vez menor, porque ela é obrigada a se submeter de forma crescente ao Parlamento

1862
Imperatriz viúva Tsu Hsi
Como concubina de quinta categoria ela dá ao imperador chinês seu único herdeiro masculino. De 1862 a 1908, Tsu Hsi governa no lugar do filho, e, mais tarde, em nome de seu sobrinho, sem sorte. Sob sua regência o império sucumbe. De forma zombeteira, diz-se que ela só demonstra habilidade para selecionar os cozinheiros da corte

1960
Sirimavo Bandaranaike
"O que ela entende de Política?" - muitos se enganam quando, em 1960, a viúva do chefe de governo assassinado do Ceilão torna-se a primeira premier do mundo. Tendo ocupado o cargo por três vezes, ela levou o país à independência

1966
Indira Gandhi
Tem atrás de si a mais poderosa dinastia de políticos da Índia. Seu pai, Jawaharlal Nehru, foi o primeiro chefe de governo do país independente. Como sua secretária e conselheira, Indira aprende os trâmites do poder. Entre 1966 e 1984, ela é por duas vezes primeira-ministra, até ser assassinada por sikhs fanáticos

1969
Golda Meir
Primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra de Israel (1969-1974). Golda é calorosa. E teimosa. "O povo palestino não existe", declara sucintamente. Ela perde a chance de promover conversações de paz e acaba por renunciar

1974
Isabel Perón
Em outubro de 1973, Juan Domingo Perón é eleito pela terceira vez presidente da Argentina e nomeia sua mulher, nascida María Estela Martínez, como vice-presidente. Mas Perón morre em 1º de julho de 1974. Isabel é rapidamente empossada como presidente. Mas seu governo é considerado como o de um fantoche. Ela se mostra sobrecarregada com as funções inerentes ao cargo

1986
Corazón Aquino
Uma dona de casa filipina faz o mundo prestar atenção. Em nome de seu marido assassinado, ela concorre contra Ferdinando Marcos e prova que uma mulher pode colocar um ditador corrupto para correr, sem se corromper no ofício (1986-1992)

1988
Benazir Bhutto

Ela herda a tarefa de seu pai: conduzir o Paquistão à modernidade. "Pinkie" se transforma em uma chefe de governo segura de seu poder (1988 e 1999). Foi assassinada em 2007

1993
Kim Campbell
Ela só governa o Canadá durante um verão e até hoje foi a única chefe de Estado na América do Norte. Em 1993, a conservadora renuncia após cinco meses, pois seu partido sofre um grande revés nas eleições para a Câmara dos Comuns

1993
Tansu Çiller
A professora da Faculdade de Economia do Bósforo é a primeira, e até agora única mulher, a ocupar o cargo de primeira-ministra da Turquia (1993 a 1996). Em 1990 adere ao Partido do Verdadeiro Caminho, e apenas três anos depois assume a presidência partidária. Considerada uma dura política reformista, também enfrenta acusações de corrupção

1999
Vaira Vike-Freiberga

Moscou, não obrigada! Durante sua presidência (1999-2007) a Letônia ingressa na OTAN e na EU. Ela prefere manter a potência russa, que no passado ocupou seu país, à distância. E provoca o chefe de Estado russo Vladimir Putin, ao falar apenas alemão com ele. Ela aprendeu o idioma após fugir do domínio soviético, em 1944

2000
Tarja Halonen
Em 1906, a Finlândia torna-se o primeiro país da Europa a conceder o direito do voto às mulheres. Hoje, a Política está firmemente em suas mãos. Durante o segundo mandato de Halonen como presidente (2006), a maioria dos ministérios também foi ocupado por mulheres

2005
Julia Tymoshenko

Depois da "Revolução Laranja", a bilionária do gás torna-se, em 2005, primeira-ministra da Ucrânia e é reeleita em 2007. Tymoshenko combate energicamente a política energética russa

2006
Ellen Johnson-Sirleaf
É a parcela impotente da sociedade liberiana, mães e avós, que a catapulta ao Poder. Na campanha eleitoral de 2005, elas marcham por toda a Libéria, devastada pela guerra, com cartazes que diziam: "Nosso homem chama-se Ellen!". Ela é a primeira presidente livremente eleita da África

2006
Michelle Bachelet

Autodidata e ateísta declarada, ela não se sentiu impedida de tentar a Presidência do Chile. Indício do quanto os tradicionais países católicos da América Latina estão mudando

2007
Cristina Kirchner
Seu marido foi seu antecessor, e também quer ser seu sucessor, é o que os Kirchner entendem por divisão de poder. Porém, em consequência das críticas generalizadas, também Nestor Kirchner aponta os erros de sua administração, iniciada em 2007, o que não produz mudanças no estágio atual de miséria econômica argentina

2009
Johanna Sigurdardottir
É ela quem deve arrancar a Islândia da crise financeira. A mãe de dois meninos é a primeira chefe de governo do mundo que, após divorciar-se do marido, vive abertamente em uma parceria homossexual

2009
Jadranka Kosor
A política dos Bálcãs também está se feminizando. Em julho de 2009, o Parlamento da Croácia nomeia a jurista como primeira-ministra do país. Sua promessa: governar a nação "com firme pulso feminino".